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Jesus, é detalhe!
Jesus, é detalhe!

Artigo

Jesus, é detalhe!

Dada a tradicional pergunta

"afinal vocês acreditam ou não em Jesus Cristo?", a

resposta mais inteligente que eu já escutei foi esta:

"nós judeus acreditamos que

o Messias virá. Vocês cristãos acreditam que ele já veio, mas voltará. Portanto,

numa coisa nós concordamos - ainda vem alguém pela frente. Alguém ainda

está para vir. Muito simples! Basta aguardar o Messias e, quando ele chegar,

perguntamos se essa é a primeira ou a segunda vez que ele aparece por aqui...".

Se Jesus é ou não o messias não é a pergunta mais importante que divide o

Judaísmo do Cristianismo. A grande questão que difere os dois sistemas

religiosos é a ênfase que cada um dá para fé e ações. De acordo com o Judaísmo,

D'us considera as ações das pessoas muito mais importantes do que sua fé.

"Melhor que (os judeus) Me abandonem, mas sigam as Minhas leis"

(Talmud Y.

Hagiggah 1:7). Agir de acordo com os princípios éticos e morais judaicos é a

obrigação central dos judeus. O Cristianismo, por outro lado, à medida que foi

se desenvolvendo, deixou de lado a quase totalidade das leis e transformou a fé

no seu ponto central. No início as diferenças eram praticamente insignificantes.

O próprio Jesus afirmou que

"não imaginem que eu vim para abolir a lei dos

profetas (...) quem infringir a lei será o último para ir ao reino do céu"

(Mateus

5:17). Com o passar do tempo, a derrota para os romanos em 70 e.c. e a

influência dos apóstolos, notadamente Paulo, a lei foi sendo abandonada. Com o

advento do protestantismo, os sacramentos católicos foram eliminados, mas

não a valorização exclusiva da fé. Lutero escreveu que

"a fé por si mesma, sem

os sacramentos, justifica, liberta e salva"

. Esse processo teve um efeito

cataclísmico no distanciamento entre nós e os cristãos.

Existem três dogmas que derivam dessa diferença fundamental. Para os

cristãos, acreditar nesses dogmas é necessário para resolver alguns problemas

que seriam insolúveis caso os dogmas não existissem. Trata-se do

"Pecado

Original"

, da "Segunda Vinda" e do "Perdão através da morte de Jesus". Ah,

nenhum destes dogmas estão na Torá. Para os judeus, esses dogmas não são

necessários porque esses problemas nunca existiram. E de fato não existe, igual

"judaísmo messiânico"

. O Cristianismo estabelece que todas as pessoas nascem

pecadoras, estando nessa condição de forma hereditária. Paulo escreveu que

"o

pecado veio através de um homem e através de outro homem que ele será

removido"

(ética IX). Assim, apenas o batismo, e nada mais, tem o poder de

salvar o ser humano. Seria uma espécie de antídoto universal para o pecado que

nasce com cada pessoa, desde os tempos imemoriais. Para o Judaísmo,

"Pecado

Original"

não é problema. A noção de que as pessoas nascem pecadoras não é

judaica, procure na Torá! Não tem... Cada pessoa nasce inocente e cabe a elas

tomar as suas próprias decisões morais e escolher se ela quer ou não pecar, isto

tem um nome, se chama livre arbítrio e responsabilidade.

Outro problema Cristão é o fato das profecias messiânicas não terem se

concretizado quando da vinda de Jesus. Como pode Jesus ser o messias se

nenhuma das principais profecias se tornou realidade?

"Nação não levantará a

espada contra nação, nem aprenderão mais a guerra" (Isaias 2:1).

Não é

preciso ser um especialista em história para saber que, nesses vinte séculos de

era cristã, isso não se concretizou. A solução oferecida pelo Cristianismo é o

conceito da

"Segunda Vinda" de Jesus, quando finalmente a era messiânica

chegará. Para os judeus, esse conceito não é aceitável porque a Torá nunca

mencionou uma segunda vinda do Messias.

Além desses elementos, existe o problema de que as pessoas não podem obter

salvação através de suas ações. Para resolver isso, desenvolveu-se o dogma da fé

em Jesus como única forma de salvação. Nessa solução, como foi observado

acima, o Cristianismo difere profundamente do Judaísmo. Quais pecados a

morte de Jesus estaria removendo dos ombros da humanidade? Como a Torá

afirma que apenas o povo judeu pode ser cobrado pelas obrigações homem-

D'us, então a morte de Jesus só poderia estar perdoando a humanidade pelos

pecados homem-homem. Essa doutrina se opõe diretamente ao Judaísmo e sua

noção de culpabilidade. De acordo com o Judaísmo, nem mesmo D'us pode nos

perdoar pelos crimes cometidos contra outros seres humanos. Apenas a pessoa

atingida tem o poder de nos perdoar, sabia disto?

Por fim, existe a diferença fundamental em termos da atitude para com os

agressores.

"Não ofereça ao mal nenhuma resistência. Pelo contrário, se alguém

te bater na face direita, ofereça a ele a esquerda também"

(Mateus 5:38) e "Ame

os seus inimigos e reze pelos teus perseguidores"

(Mateus 5:44). O Judaísmo,

por outro lado, exige que os agressores sejam poderosamente resistidos. A Torá

cita o exemplo de Moises, quando mata o capataz egípcio que batia em um

escravo judeu. Do judeu é exigido tratar seus inimigos com justiça, mas não

existe nenhuma indicação nas fontes de que um judeu deve amar seus inimigos.

Nenhum judeu é obrigado a amar um nazista, por exemplo, como poderia

sugerir a declaração de Mateus.

Apesar das muitas diferenças entre nós e os cristãos, essas diferenças não

devem em hipótese alguma ser obstáculo para um excelente relacionamento

entre as comunidades. Os dois sistemas religiosos compartilham valores e

objetivos bastante similares. Ambos querem um mundo mais ético e humano e

as pessoas religiosas das duas comunidades devem se ajudar nesse intento. No

entanto, em uma época em que movimentos missionários cristãos das mais

variadas estirpes lançam campanhas de conversão de judeus, é importante

conhecer as diferenças entre nós e os cristãos para termos claras as linhas

vermelhas que separam cada religião.

Artigo baseado nas obras de

Dennis Prager e Joseph Telushkin. Tradução e

colaboração de Selma Bias Fortes.

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